Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

18.3.20

Dia 1: por Julia Dantas

Amanhã as escolas fecham. Faz quase um ano que me mudei para a Cidade Baixa, para um apartamento de onde não ouço nada dos bares e da noite, mas ouço, no meio de todas as manhãs e no meio de todas as tardes, crianças correndo e jogando bola nos intervalos das aulas do Colégio Rio de Janeiro. Hoje de tarde me dei conta de que as estava ouvindo pela última vez em um bom tempo. No fundo, no fundo, eu detesto quando elas jogam bola e trocam uma infinidade de palavrões aos berros, mas hoje fiquei nostálgica pensando que amanhã não estarão aqui.

A cidade mandou fechar os cinemas, os teatros, as academias, os clubes e os shoppings. Ainda não chegamos a vinte casos confirmados no estado (mas também ninguém entende qual o critério para a realização de testes), mas a partir dos cinquenta casos, haverá previsões mais confiáveis sobre qual será o cenário da pandemia por aqui. Então ficamos nessa situação: quase desejando que chegue logo o quinquagésimo paciente para que a gente enfim possa entender o que está acontecendo. Mas também desejando que ele não chegue nunca, porque a partir daí a coisa fica séria.


Nas calçadas ainda há movimento. Mas pelas janelas do restaurantes, não vi quase ninguém. As atividades na PUC foram suspensas anteontem. Minhas aulas de yoga foram canceladas hoje. Minha família que sempre almoça junta às quintas-feiras desmarcou os encontros até data a ser definida. Levei a Hortelã na Redenção e só encontrei um casal de moradores de rua com o cachorro. As coisas às vezes parecem muito normais, às vezes muito estranhas, e essa oscilação já é, em si, um estranhamento gigante.


Esse diário começa hoje.

Um comentário:

  1. Julia, muito bom ler tuas impressões sobre esse momento. De repente nos damos conta de como as coisas mais básicas são importantes e já fazem falta. Tenho esperança e acredito que isso tudo vai passar. Enquanto isso vamos tentar agir com paciência, tolerância e espero que consigamos demonstrar compaixão.

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