Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

19.3.20

Dia 2: por Caroline Joanelllo

Ontem à noite, participei do panelaço contra o presidente— incluí em minhas intenções a família inteira, para ser bem honesta — e, por breves momentos, me senti reunida com todas as pessoas que faziam barulho junto comigo. Esse, para mim, sempre foi o poder dos protestos e das junções na rua: alimentar a esperança de que não estou sozinha. Mas, não consegui conter uma certa descrença.

É meu quarto dia de autoquarentena. Meu medo não é por mim, mas pela parte que eu poderia tomar no avanço do vírus, prejudicando outros. Para estar aqui, no entanto, dei muitas sortes: a de ter um emprego com carteira assinada, a de ter direito a férias remuneradas e a de ter escolhido março como o mês para tirar essas férias. Escolhi lá em novembro, quando o vírus ainda nem existia, acredito. Graças a isso, pude optar por permanecer recolhida, enquanto meus colegas seguem trabalhando, atendendo o pouco público que tem aparecido nesses últimos dias.

Minha casa fica no Centro, e é estranho ver as ruas, desde segunda-feira, com movimento próximo ao marasmo de domingo, silenciosas demais. Por um lado, fico feliz pela conscientização individual de quem tem a possibilidade de permanecer em casa. Por outro, observo a padaria, a lavanderia e o mercadinho funcionando normalmente, com seus funcionários rotineiros. Pessoas que precisaram se expor, ao entrar num ônibus, ao atender os desconhecidos vindos sabe-se lá de onde, por não serem donos de si. Penso nos meus colegas de trabalho. Observo moradores de rua circulando, possivelmente sem nenhuma informação — nenhum deles tem televisão ou celular. Tento imaginar o que passou pela cabeça deles enquanto a barulheira tomava conta das ruas.

Hoje, a cidade segue, o país segue, o silêncio novamente caiu sobre os dias.

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