Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

27.9.20

Dia 194: por Ana Paula Silva Barbosa

Já faz dois meses que esse longo domingo começou. Dois dias 25 nos passaram, ou seja, consegui economizar duas mesadas. Isso não importa muito, é mais surpreendente como eu consigo me atrasar para uma videoaula mesmo estando em casa, mereço um prêmio.

A internet não ajuda muito a manter minha noção de perigo, para mim, que confiavelmente e despreocupadamente me ajustei a essa rotina, não importa faça chuva faça sol, a ordinária família do 103 não é grande o bastante nem pequena o suficiente para ser percebida. Nesse pequeno apartamento, cheio de pelo de gato, e mais canecas do que ovos, nós fazemos a cor do pé ser uma piada melhor do que o “ tijolinho “. 

As coisa aqui são muito bem confortáveis. Não mudamos a nossa rotina, nem nossos hábitos, muito menos nossos pensamentos. Todo dia eu acordo às 5h, enrolo e só faço o meu omelete as 6:30. Vejo um anime, por que eu odeio assistir com qualquer outra presença sem ser meus gatos, lá pelas 7:30, me faço de besta e fico deitada. Tomo vergonha na cara e vou fazer café para a mãe, logo tomo uma pílula de ritalina e marco 30 min. Apesar de já ser 8h, eu tomo um banho demorado, e sempre no quente. Faço um copão de café, corro para o quarto, ligo a videoaula no meu notebook e me deito. Eu continuo tendo preguiça de prestar atenção, então ao invés de copiar toda a aula e estudar em caso como fazia antes da quarentena, eu apenas fico prestando atenção e depois eu estudo pelo livro didático (enquanto tenho 16, poderei procrastinar dessa maneira).

O que acontece nesses momentos sempre será a mesma coisa. O que nos interessa é o que vem depois: meus surtos com a minha mãe, minhas conversas nada a ver com o meu pai, meu gato stalker, minha gata gorda sofrendo bullying, ou eu surtando na internet por qualquer coisa? Tantas coisas acontecem entre três pessoas e dois gatos, que parece coisa de girico acreditar que ninguém sabe que dia é.

Não faz muito tempo que meu pai estava cozinhando um frango afogado na cerveja preta. Ele disse 3 vezes “ cerveja branca “ e durante um filme ele viu uma cena de almoço e falou "frango na cerveja".

Minha mãe, tão surtada quanto eu, não decora nome de personagem, e ainda por cima acha que coisas muito sérias irão acontecer em um episódio. Teve um dia que ela achou que a protagonista era a amiga dela, então ficou me perguntando “ mas a catarina não é a menininha ruiva….mas ela não estava gostando do príncipe?... ela está traindo ele?" não minto, me estressei na primeira pergunta.

Sozinha eu surto comigo mesma, tretando com qualquer pessoa na minha timeline. Sentindo falta das minhas pequenas tretas com minha melhor amiga, pensando em escrever um novo capítulo da minha fanfic, assistir aquele filme que eu parei duas semanas atrás, tentando tomar vergonha na cara e começar a estudar. No final, eu só fico encolhida na minha cama debaixo das cobertas pensando "ah, eu colo da internet. Bora tentar escrever algo". Felizmente eu tenho bom senso e arrasto meus cadernos e meu notebook para a cama e começo a estudar. nice.

Até o fim, posso dizer que fui produtiva no mínimo. Três temas concluídos, dois blocks no Twitter, dois cochilos, meio capitulo pronto, e umas quatro novas ideias de universo para eu criar. Talvez minimamente produtiva, mas produtiva. Nada me impede de ignorar isso e dar total atenção ao meu teto. E no fim, perceber que eu tirei mais um gostoso cochilo.

As coisas só podem ser estragadas se alguém na televisão vem falar do novo números de mortes, a é, já entrou na cachola que ele só vai aumentar, ainda temos feijão? Que dia foi a última feira? 

Não importa muito que dia isso foi. Meus pais estão dormindo,  então mesmo sendo 11h, eu volto a deitar na cama ignorando as videoaulas perdidas, o número de mortes, os novos “exposeds”, pessoas inventando novas regras para o pronome, criando novos gêneros, atacando bissexuais, endemonizando homens e enaltecendo mulheres, matéria atrasada e meu cereal que está escondido na gaveta por que tive nojo do gosto. Não tenho a menor ideia de como consigo conviver com tudo isso, tudo em um mesmo dia, em algum dia… 

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