Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

23.3.20

Dia 6: por Ana Laura Freitas

Dada a paisagem sonora tranquila da Cidade Baixa, essa manhã de segunda-feira se confundia com a de um domingo qualquer. Quando o sol bateu na cama, me perguntei, ainda sonâmbula, se era dia de acordar cedo ou se estava liberado prolongar o sono. Em meio à pandemia, os sons do bairro boêmio já não são fonte de orientação segura para uma moradora antiga da Rua da República. Em lugar da massa constante de ruídos indiscerníveis, nos últimos dias, ouço um carro passar, depois outro, lá vem um ônibus... O burburinho noturno das conversas de mesa de bar foi substituído por panelaços praticamente diários contra nosso patético presidente. Um samba lindo protagonizou o de ontem à noite (quero ser amiga desse vizinho!), e me acompanhou hoje ao longo do dia:


Meu namorado ainda me visita semanalmente, não sabemos até quando. As restrições vêm se acumulando rapidamente, e ele depende do ônibus. Chega e vai direto pro banho, deixando a roupa e os sapatos na entrada de casa. Cada um de nós tem dois gatos adultos. Seria tenso juntar os quatro (ou essa é a justificativa que esconde a suspeita de que se isolar a dois também não é nada fácil). O fato é que alterar a rotina humana das casas já tem sido um desafio suficiente.

Há exatamente uma semana, a universidade suspendeu as aulas, mas a rádio seguiu com funcionamento normal até terça. Desde a última quarta, fizemos trabalho parcialmente remoto (alguém precisava ir até lá apresentar ao vivo os noticiários, invariavelmente pautados pelo coronavírus). A partir de hoje, mesmo as locuções passaram a ser feitas a distância, por telefone. Todos estão aprendendo a lidar com essa situação completamente nova e impensada. As dificuldades de relacionamento da equipe, antes subliminares, já se tornam bem delineadas quando escritas por extenso no grupo do whats.

Não aderi completamente à vida mediada pela tecnologia, e pelas tele-entregas. Fui à feira no final de semana, e eventualmente pretendo ir ao supermercado, ainda que minhas necessidades de consumo estejam sendo bastante redefinidas nesse contexto.

Acabo, porém, de sair da minha primeira sessão de terapia a distância (requer adaptação, mas me parece ok), e em seguida vou entrar em um encontro virtual com 8 amigas distribuídas em três cidades de dois continentes. Analógica que sou, ainda tenho certa dificuldade de interagir através das telas, que me remetem mais a algo para ser assistido. Mas, como disse minha amiga Julia, talvez a pandemia me obrigue a lidar de modo diferente com elas.

Um comentário:

  1. Imagina só, Elza, Buiú, Gambá e Laerte no mesmo time! Time dos sonhos, hein?! Te amo, nos veremos logo, meu amor.
    E obrigado por acrescentar a Júlia Dantas na minha vida!

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