Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

11.4.20

Dia 25: por Gisela Rodriguez

Mudança 

Tenho vontades estranhas
Desde que chegou 
Pelo ar
Um vírus mortal, pandêmico 
Sorrateiro pelas beiradas 
Das fronteiras 
Dos corpos

Desejo muito sempre
Beber algo
Preciso desde então
Me embriagar
Somente palavras não me contêm mais

Tenho pesadelos
Idade média, nas sombras
Da perseguição
Nós sendo queimadas
Pesadelos com o holocausto
Atrás de arames farpados
De violinos que nos guiam para a morte

Lavo as mãos 
Lavo outra vez
E mais uma
Lavo novamente
Lavo
Esfrego
Machuco 

Pelas ondas virtuais vejo
Escuto
Noticias de governos
Quem são afinal esses monstros?
O que é o ecossistema para eles?
Para que matamos tantos animais
Sacrificamos nossos amores
Pelo poder
Moeda corrente
Batalhas diárias
Com armas violentas
De políticas tirânicas 
Capitalismo selvagem
Já no meu café da manhã


Mesmo cansada não consigo
Nem dormir
Nem descansar
Sinto toda a minha pele
O ritmo do coração, o sangue
Que percorre meu corpo
Ossos que me sustentam
Fico dentro de um pânico louco
Sem saída 
Sem porta 

Meu corpo e minha alma
Brigam


Saio disso um pouco
Passaram alguns dias
Dez, talvez mais


Depois me informo sobre os rios
Vejo que estão mais limpos
Abro a janela de meu quarto
O cheiro das árvores mais forte
Lascas de galhos caem 
Os pássaros estão festejando
Voam com liberdade
Aqui bem perto
A laranjeira dá frutos nessa época
E esse perfume... é do jasmim
Lançando meu imaginário
Para terras desconhecidas
De danças do ventre
De fogo noturno
Cantos xamânicos

Entro no ritmo
Aceito o mundo

Depois que terminar a quarentena
Sairei de casa sem roupas
Sem armas
Sem dinheiro
Vou cavalgar estradas sem automóveis 
E sob a luz da mãe-lua
Entrarei para o bando das guerreiras amazonas 

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