Mudança
Tenho vontades estranhas
Desde que chegou
Pelo ar
Um vírus mortal, pandêmico
Sorrateiro pelas beiradas
Das fronteiras
Dos corpos
Desejo muito sempre
Beber algo
Preciso desde então
Me embriagar
Somente palavras não me contêm mais
Tenho pesadelos
Idade média, nas sombras
Da perseguição
Nós sendo queimadas
Pesadelos com o holocausto
Atrás de arames farpados
De violinos que nos guiam para a morte
Lavo as mãos
Lavo outra vez
E mais uma
Lavo novamente
Lavo
Esfrego
Machuco
Pelas ondas virtuais vejo
Escuto
Noticias de governos
Quem são afinal esses monstros?
O que é o ecossistema para eles?
Para que matamos tantos animais
Sacrificamos nossos amores
Pelo poder
Moeda corrente
Batalhas diárias
Com armas violentas
De políticas tirânicas
Capitalismo selvagem
Já no meu café da manhã
Mesmo cansada não consigo
Nem dormir
Nem descansar
Sinto toda a minha pele
O ritmo do coração, o sangue
Que percorre meu corpo
Ossos que me sustentam
Fico dentro de um pânico louco
Sem saída
Sem porta
Meu corpo e minha alma
Brigam
Saio disso um pouco
Passaram alguns dias
Dez, talvez mais
Depois me informo sobre os rios
Vejo que estão mais limpos
Abro a janela de meu quarto
O cheiro das árvores mais forte
Lascas de galhos caem
Os pássaros estão festejando
Voam com liberdade
Aqui bem perto
A laranjeira dá frutos nessa época
E esse perfume... é do jasmim
Lançando meu imaginário
Para terras desconhecidas
De danças do ventre
De fogo noturno
Cantos xamânicos
Entro no ritmo
Aceito o mundo
Depois que terminar a quarentena
Sairei de casa sem roupas
Sem armas
Sem dinheiro
Vou cavalgar estradas sem automóveis
E sob a luz da mãe-lua
Entrarei para o bando das guerreiras amazonas
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