Eu nunca fui muito boa em escrever, expressar sentimentos através das palavras. Mas decidi fazer parte dessa coleção de relatos para mostrar como a geração Z está passando por esse período de isolamento social. É claro que sempre fomos muito modernos e sempre atualizamos as novidades em tecnologia, por isso sou o guru doméstico de todas as formas de entretenimento, desde o Zoom até como usar o Globo Play para assistir ao BBB (sim, consegui fazer com que a mãe [mesmo emburrada] e o Cláudio assistam a esse reality show que serve para nos afastar desse período tão difícil que está sendo para todos; portanto, os maiores debates na hora do jantar são quem será eliminado essa noite e o que aconteceu no dia anterior).
Mesmo sendo a geração que sabe tudo sobre tecnologia, ainda não estamos acostumados com a falta de contato físico com nossos amigos, namoradas e namorados, tendo várias discussões que duram horas sobre se é certo ou não quebrar a quarentena para vê-los. Além disso, há a questão dos estudos à distância: tenho amigos que pensam em trancar o curso devido a dificuldades financeiras e também porque aprender a fazer o vatapá on-line é meio complicado, principalmente se você não pode comprar todos os ingredientes. É também um período em que ninguém imaginou passar o começo de sua vida adulta, na casa dos vinte anos, e a maior festa do semestre será aquela em que reunimos mais de 20 pessoas no Zoom para assistir à final do BBB.
Eu estava conversando com minha amiga esses dias, quando estávamos lançando ideias sobre o lado positivo dessa quarentena, e cheguei a uma conclusão que me deixa em paz em momentos como este. Na vida cotidiana, estamos sempre conectados às pessoas, uma influencia a outra, mesmo que indiretamente, e, assim, perdemos parte do que seria nossa essência, nos tornamos cópias pequenas de todos os que nos rodeiam. Em períodos como este, onde somos forçados a ficar em casa, não temos contato direto com ninguém (exceto nossa família), por isso permanecemos com nós mesmos, redescobrindo a nós mesmos, sem a influência de ninguém, podemos ler e observar o que achamos interessante, moldando-nos novamente.
Mas é claro que, todos os dias que passam, a saudade do normal aumenta, e os live shows dos artistas, a série que você ama no Netflix e os filmes do Oscar de 2010 que não vimos até hoje não são mais substitutos da sociedade humana. Todos os dias procuramos mais maneiras de se aproximar daqueles que estão longe. Então, neste exato momento, meu grupo de amigos descobriu um novo aplicativo de interação social, onde é possível olhar para diferentes redes sociais juntos, e também para filmes; acho que será nossa nova maneira de nos encontrar semanalmente. Além disso, há planos para a pós-quarentena: as festas que vamos, os cafés, os bares, as viagens (já temos o lugar e tudo, só falta o COVID-19 sumir), então, até presos no presente, nos vemos vidrados nas possibilidades do futuro, sem saber quando ele chegará para nos abraçar.
A quarentena também possibilitou que eu voltasse a adotar hábitos que não fazia desde que comecei a faculdade: desenhar, ler um livro que gosto em 2 dias, organizar minhas playlists no Spotify. Então, da mesma maneira que ela veio para tornar nossas vidas um inferno, acho que esse isolamento social veio para nos lembrar dos pequenos prazeres da vida cotidiana em casa e também valorizar os momentos fora de casa, assistindo o pôr do sol com os amigos, por exemplo. Eu não acho que alguém volte da mesma forma depois de tanto tempo privado de certas coisas que nem percebemos serem importantes para nós. Deixaremos um olhar diferente para o mundo, que levaremos conosco para o resto de nossas vidas, sobre valorizar cada momento em que vivemos com as pessoas que amamos.
Este mês também será meu aniversário, e o aborrecimento de passar esse dia sem meus amigos me levou a gastar mais do que deveria em presentes para mim, porque de acordo com meu eu interior: “Não vou gastar em bebidas e rolês com os amigos, vou gastar em roupas ”. Assim, estou reformando meu guarda-roupa. Todo presente de aniversário que a família sugere, peço uma peça de roupa, pronta para sair... do meu quarto para a cozinha, afinal, esse é o meu limite. Daqui a pouco coloco minhas melhores roupas para passear com o cachorro, mas lembro que ninguém me verá e que não sou uma pessoa vaidosa (imagino meus amigos leoninos como devem estar se sentindo neste momento). Por falar em presentes, descobri que, mesmo longe dos meus amigos, eles estão conseguindo pensar em me dar presentes de aniversário: Rafa disse que o dela é uma surpresa, será digital; Carol disse que vai cozinhar o prato que eu quiser e entregá-lo aqui (além da torta de Nutella e cookie que eu pedi); e assim continua, estou muito feliz por ainda ser lembrada neste momento que está sendo tão difícil para todos.
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