Náusea, o sintoma, meu sintoma, recorrente. Não sei se é indício de que fui infectada pelo novo coronavírus. Afinal, a cada dia, surgem matérias na mídia em que especialistas discutem sobre possíveis sinais da presença do vírus no organismo: tosse seca, tosse molhada, febre alta, dor de cabeça, conjuntivite, males intestinais, erupções cutâneas, de modo que, sim, a náusea pode ser um indício de que fui infectada.
Sinto-me doente, doente há muito. No entanto, chamem-me de tola se quiserem (não ligo), mas creio, quero crer, que não é de Covid-19 que padeço, mas sim de uma doença psíquica que acaba por repercutir no meu corpo, influenciando o ânimo, a qualidade do sono, o apetite, revoltando-me o estômago, deixando-me enojada, com asco de tudo.
Tenho um nojo profundo. Leio as manchetes dos jornais do dia e sinto engulhos. Quanta mediocridade, quanto despreparo e imprevidência. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se tivéssemos dirigentes melhores? Quantas vidas teriam sido salvas se os governantes mundiais, em especial o atual presidente do Brasil, tivesse um mínimo de discernimento, um pingo de grandeza de espírito?
Os números sobem, estão a subir, continuarão a subir porque foi assim na China, foi assim na Europa e nos Estados Unidos até que se tomassem medidas, mesmo depois de tomadas medidas. Nenhum infectologista que honre o título anunciou que seria distinto aqui. Era inevitável que a pandemia nos atingisse. Já aconteceu antes e tornará a acontecer. Os vírus desconhecem limites geográficos. É preciso aprender com os erros, quando aprenderemos? Quando o senhor presidente aprenderá?
Sinto-me doente e continuarei a me sentir doente de desespero, de tristeza porque estamos a viver um momento terrível da nossa história; para além das perdas humanas para a Covid-19, além de todas vidas que perdemos todos os anos para a violência em suas diversas formas, para outras doenças como as amebíases, hepatites, leptospiroses e diarreias resultantes de falta de saneamento e tratamento de água, devemos vir a sofrer uma fortíssima recessão econômica e não temos governantes a altura do desafio. Simplesmente não temos.
Como ontem, amanheci com náusea, cuidei das minhas filhas, das tarefas domésticas e a náusea, presente. Mantive-me em casa, li, escrevi, conversei com amigos sem nunca deixar de sentir o incômodo revoltando-me o estômago. O dia passou, a noite caiu e, com ela, o silêncio anormal desses tempos. Vou cuidar do jantar, vou tentar distrair a mim e as minhas filhas, vou tentar dormir às horas de sempre e sei que permanecerei acompanhada pela mesma maldita náusea que, com toda a sinceridade, não sei se passará algum dia.
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