Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

13.5.20

Dia 57: por Roberta Konzen


Acordei atrasada! Comecei um curso de línguas, depois fui para as práticas de yoga, passei para meditação guiada, fiz algumas especializações na minha área, assisti inúmeras palestras, trabalhei, criei um site de forma voluntária para uma Escola do Estado, assisti lives, editei vídeos, gravei...

É, eu definitivamente entrei para o grupo daqueles que estão super produtivos nesse período e abraçam tudo que veem pela frente!

Não penso que todos devem seguir o mesmo, longe disso! Cada um reage a sua maneira e essa foi a melhor para a minha mente ansiosa não cair em paranoia.

Eu estava tendo recorrentes ataques de pânico que só remédios fortes conseguiam acalmar. Soube da tragédia anunciada bem antes da maioria. Por possuir muitos amigos morando no exterior, me deparei com a nova realidade trazida pelo coronavírus algumas semanas antes dele chegar ao Brasil.

Foram muitas noites mal dormidas. E diante disso eu tive que reagir! Por mim!

Então, reconhecendo todos os meus privilégios com um trabalho que seguiu normalmente (embora em home-office), decidi me desligar do mundo exterior. Isolada em casa, não me permito ligar TV ou acessar qualquer notícia sobre o vírus (ou sobre política, porque ambas no Brasil são trágicas!). A distração? Os cursos!

Junto das 8 horas do habitual trabalho, me falta tempo para cumprir tudo que me propus a fazer. Me vejo até perdida em meio a tantas atividades e, a pessoa que, antes contava as horas para “despejar” seus anseios na terapia, hoje se viu esquecendo do horário e tendo que remarcar a consulta virtual.

Quando foi que me tornei essa pessoa produtiva enquanto o mundo acaba lá fora? Sei que todos me julgam nesse momento, mas egoistamente confesso: está me fazendo um bem danado (sobre)viver a esta loucura assim.

No fim do dia, pego a estrada sozinha para voltar à capital. Após o Dia das Mães, optei por me separar de meus pais que “quarentenam” comigo desde o início, alternando entre a casa de praia e o apartamento em Porto Alegre. Sinto que preciso de espaço. Minhas idéias transbordam e já não cabem mais dentro de mim.

No carro: Cássia Eller, Cazuza e Renato Russo me fazem companhia em alto e bom som. Através de letras sempre atuais, me reconecto com o mundo exterior.

“Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã
(...)
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão”
(Legião Urbana – Perfeição)

Renato, você está vivo e escreveu isso ontem, né? E dedicou um verso para a minha atual situação ainda! Comemorando uma solidão tão indesejada por muitos!

Acho que tenho que voltar ao mundo real. Estou delirando já!

Mas, quem não está?

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