Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

17.5.20

Dia 61: por Fernando Gomes

Sexta fechou uma semana que fizemos o que não era recomendado, e ontem o guri começou a tossir, sibilar, reclamar da difícil respiração, do coraçãozinho. Espirrou o dia todo, e quando falou em dor na garganta, eu gelei. Três e meia da manhã me chamou. Tava todo molhado de xixi. Depois que troquei o pijama e trouxe pra nossa cama, dormiu. Eu não. Droga, não devíamos ter ido a Porto Alegre no Dia das Mães + aniversário do vô. Mas a insistência era grande, e tomaríamos todos os cuidados. Seria tri para as crianças verem a priminha que já vai fazer um ano, e ótimo para meus pais se animarem matando a saudade dos netos depois de dois meses.

Eu sei, talvez não precisasse ter ido no super nem no outro mercadinho perto da casa da minha irmã. Calma, não deve ser nada. Não levaria uma semana inteira pra começarem os sintomas. Será? E por que a mana, eu e mais ninguém de lá apresentou quadro parecido? Quer dizer, até onde eu sei. Quando amanhecer vou perguntar. Fica frio, man, é só paranoia pela sensação de ter estado no meio de tanta gente, 100% de máscara. Aqui em Canela eu ainda não tinha visto isso.

A culpa é uma desgraça. E se...? Melhor parar de ver tanta notícia, é muita energia negativa. Até rezar já rezei. Tô há dias pra fazer aquela doação. Na dúvida de seguir ajudando, mesmo que só com 5-10 pila. É quase nada, e pra quem recebe, no volume, faz diferença. Se bem que eu tô sem receita desde fevereiro. Mas se for ver, é o valor de 1 ou 2 cervejas. Fudido, fudido e meio. Doar só pra aplacar esse sentimento de quem rateou e tá devendo, vale? Ou tem que ser espontâneo total pra ser de verdade? Não viaja, que que o cu tem a ver com as calças?

Por falar em cu, tá uma merda geral. Tanta gente sofrendo. Presidente filha duma puta. Cambada de retardado quem votou nesse doente, tinha que perder o título por três eleições, no mínimo.

A visita pra bisa foi a única parte totalmente segura desse passeio indevido. Ela à distância no portão, apesar de não estar de máscara como a gente. Também não desceu com o aparelho auditivo, então quase nem deu pra conversar. Tomou esporro da vizinha que parou pra saber como ela passou a semana. Disse que outro dia o motoboy ficou apitando até em outros apartamentos, já que a vovó não escutava o interfone. “A senhora tem que usar o coisinha na orelha, gastou uma fortuna nele!” Perguntei se ela ainda ouvia rádio. Tive que repetir a pergunta duas vezes. 95 anos. Passa o dia no face, whats, netflix. “Tô de saco cheio, queria ir no Praia de Belas, pegar um cinema. Não vai passar isso?”

Vai, vó. Vai.

Amanheceu e o Chico tá melhor. 

Vai passar.

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