Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

19.5.20

Dia 63: por Ana Carolina Peres Bogo

É o problema de sentir demais por não sentir. Às vezes tenho dias bons, me sinto bem e sou produtiva. Assisto séries e consigo me divertir sem muitos esforços. Mas, há pouco tempo notei que, quando não sinto ansiedade por um bom período de tempo, e posso dizer estou perto do que poderia chamar de um estado de relaxamento, fico em alerta tentando descobrir o que está errado. Paro tudo o que estou fazendo e fico ouvindo a minha respiração ser acompanhada pelas batidas ritmadas do coração que se tornam mais rápidas a cada segundo. Aquele frio na barriga aparece, sempre acompanhado pelo conhecido aperto no peito. Como assim estou bem? Depois de mais de sessenta dias sentindo ansiedade em quase todos os momentos, de procurar alucinadamente cursos online, acender velas aromatizadas — romã, baunilha e uma que não fui capaz de identificar — por longos períodos de tempo e que acabam me deixando com dor de cabeça, de pendurar o meu calendário do Friends para poder ter a confirmação de que os dias realmente estão passando, ler livros empoeirados que outrora foram esquecidos, comer muito doce e depois não comer nenhum, tomar todos os dias remédios para me acalmar no menor incômodo, assistir filmes que estavam na minha lista há muito tempo e outros que não queria mas vi mesmo assim, decidir pintar as unhas mas desistir quando é preciso escolher o esmalte, entrar e sair do mesmo aplicativo de rede social por falta do que fazer, hidratar o cabelo toda a vez que vou tomar banho até acabar com os hidratantes da casa, como posso me sentir bem? Me tornei estranha a esse sentimento. Espero que um dia o meu corpo não o veja como um alerta de que algo está errado, mas de que algo está bem. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário