Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

28.5.20

Dia 72: por Edvanio Ceccon

Um pouquinho de história.

“Para quem está muito assustado com o que ocorre hoje, uma reflexão:
Imagine que você nasceu em 1900. No seu 14º aniversário, a Primeira Guerra Mundial começa e termina no seu 18º aniversário. 22 milhões de pessoas morreram nessa guerra. No final do ano, uma epidemia de gripe espanhola atinge o planeta e dura até o seu aniversário de 20 anos. 50 milhões de pessoas morrem disso nesses dois anos. Sim, 50 milhões. No seu 29º aniversário, a Grande Depressão começa. O desemprego atinge 25%, o PIB mundial cai 27%. Isso vai até os seus 33 anos. O país quase entra em colapso com a economia mundial. Quando você completa 39 anos, a Segunda Guerra Mundial começa. Você ainda nem chegou ao topo da colina.  E não tente recuperar o fôlego. No seu 41º aniversário, os Estados Unidos são totalmente atraídos para a Segunda Guerra Mundial. Entre os 39 e os 45 anos, 75 milhões de pessoas morrem na guerra. Aos 50, a Guerra da Coréia começa. 5 milhões morrem. Aos 55 anos, a Guerra do Vietnã começa e não termina por 20 anos. 4 milhões de pessoas morrem nesse conflito. No seu aniversário de 62 anos, você tem a Crise dos Mísseis Cubanos, um ponto de inflexão na Guerra Fria. A vida em nosso planeta, como a conhecemos, deveria ter terminado. Grandes líderes impediram que isso acontecesse. Quando você completa 75 anos, a Guerra do Vietnã finalmente termina. Vamos tentar manter as coisas em perspectiva, tá tranquilo”.

Daí eu lembrei de uma conversa com um grande e sábio amigo:

"Tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis criam homens frágeis que criam tempos difíceis"...

A vida é um ciclo e teremos que passar nossos próprios tempos difíceis... Que possamos olhar o passado e aprender com ele, e construir um futuro verdadeiramente novo!

Recebi esse texto ontem e refleti bastante.

Primeiro, me impressiona que em apenas um século tenha ocorrido tanta desgraça. Não era para ser assim. No início do Século XX vínhamos do Iluminismo, da era das ideias e da razão, o homem triunfava sobre os mitos e divindades. A arte moderna e a diversidade cultural floresciam, a indústria e a tecnologia avançavam. A década de 1920 foi marcada pela criação literária e artística na Europa, especialmente em Paris (lembram do filme do Woody Allen, Meia-Noite em Paris?). Os direitos humanos se expandiam, as mulheres ganhavam direito ao voto, as jornadas de trabalho diminuíam, a seguridade social se ampliava. O que deu errado com o homo sapiens?

Também acho que olhar para essas milhões de mortes passadas não pode nos conformar com o que acontece hoje com o coronavírus. Claro, sabemos que isso vai passar, mas duvido que aqueles que morreram com a gripe espanhola em 1918 não tentaram fugir dela a todo custo. Cada vida poupada é uma vitória. Temos que evitar o raciocínio de Stalin, de que uma morte é uma tragédia, mas milhões de mortes são só uma estatística. A morte jamais pode ser encarada como somente um número. Hoje no Brasil, mais de 26 mil pessoas sentem a falta de um ente querido levado pela covid-19. Tente colocar 1+1+1... até chegar aos 26 mil e terá a ideia dessa falta.

Claro, a humanidade não acabará com essa pandemia, “tá tranquilo”. Mas não voltará a ser como antes. Disse o ex-ministro da Saúde Mandetta que o Século XXI começou agora em 2020. Acho que é isso mesmo. Antes de 2020 e depois dele. Não faço previsões, falo do agora: pessoas isoladas, viagens canceladas, comércios freados, turismo inexistente. Fronteiras fechadas, controles rígidos, migrações interrompidas. A internet virou a vitrine da morte. Foi preciso apenas quatro meses para que a exaltada globalização fosse varrida do mapa. Por um vírus microscópico e invisível. Com o avanço da medicina (mapeamento do genoma, células-tronco, exames e pesquisas cada vez mais avançados) não era pra estar tudo no controle? Até o final do ano passado, diziam que já tinha nascido quem iria viver até os 150 anos. Agora ninguém mais fala disso.

Não sei se essa pandemia foi um “cisne negro”, evento imprevisível, improvável e de grande impacto, na definição do escritor libanês Nicolas Nassim Taleb. Isso porque vários epidemiologistas previam que ela poderia acontecer, mas ninguém dava ouvidos. Mas é inegável que ela fez ruir toda a certeza e controle que pensávamos ter sobre nossa vida. Em quatro meses ficamos acuados e indefesos, olhando pelas janelas para um inimigo invisível. Isso nos faz parar para pensar. O homo sapiens não era tão sapiens assim.

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