Olá, me chamo Camila, possuo 31 anos, sou advogada e estou em distanciamento social desde o dia dezessete de março de dois mil e vinte. A Julia me convidou para participar deste lindo projeto bem no dia do meu aniversário, que foi nesta segunda-feira. Aliás, foi o único dia, desde que entrei em “quarentena”, que esqueci um pouco desta loucura que estamos vivendo, pois, felizmente recebi tanto carinho (ainda que à distância) e ganhei tantos mimos (deixados na minha portaria) que os parabéns, cantado via zoom por muitos amigos, pareceram como se fossem cantados ao vivo e a cores.
Pois bem. Moro eu e minha yorkshire de dois anos de idade, a qual me tira completamente do tédio e ajuda a manter minha saúde mental. Sou advogada empregada e o escritório onde trabalho optou por nos manter em casa desde o meio de março. Felizmente – e ao contrário do que ocorre com a maioria por aí – temos recebido o apoio e a estrutura para continuar a produzir do conforto e da segurança do lar. Mas, sinto muita falta de ir até o escritório e interagir com as pessoas. De sair para almoçar com os colegas e poder escolher qual restaurante ir. Sinto falta da gritaria do Centro de Porto Alegre e até daquelas coisas chatas ou irritantes que eram vivenciadas no cotidiano, por exemplo, as pessoas andando devagar na tua frente. Sinto falta da minha família (maioria do grupo de risco e que não os vejo desde março), dos meus amigos, de ir em um parque tomar um chimas e de comer uma pizza e tomar um Spritz em um bar. Basicamente meus “passeios” consistem em duas vezes na semana andar pela quadra com a Mel, ir ao mercado uma vez por semana e ir de vez em quando presencialmente na terapia (demais sessõea feitas online).
Hoje fui acordada pelo despertador e pela Mel jogando um dos seus brinquedos (o Pingo) na minha cara. Era seu convite para acordar e brincar. Não consegui fazer algumas posições de yoga para me despertar e alongar e fiquei me enrolando um tempo na cama brincando com a Mel. Nestes tempos de pandemia tenho tentado me permitir e me julgar menos. Mas, quando tomei coragem para sair da cama, tomei meu café, mudei a água da Mel, dei a sua comida e dei uma leve geral na casa (tirei o lixo, passei aspirador e lavei a louça que havia ficado da noite anterior). Depois de feito isso, passei um novo café e sentei para trabalhar.
O trabalho da manhã pouco rendeu e fui almoçar. Marmitas congeladas caseiras me salvam em muitos dias e hoje o menu foi panqueca de frango, arroz e feijão. Após o almoço, dei uma olhada nas redes sociais, mais atenção para a Mel, tomei um banho para tirar a preguiça e fiz novo café para iniciar o turno da tarde.
Sentei para o novo turno e fui interrompida pela Mel, que roubou minha piranha de cima da mesa (?) e veio me “desafiar”. Foram alguns minutos perdidos atrás da yorkshire de três quilos que se move com muita destreza. Recuperada a piranha e tendo sido dado um “pito” na dog, já sem concentração pedi um doce para alegrar a tarde.
Recuperar a concentração em tempos de pandemia é algo que tem sido desafiador para mim e para muitas pessoas, mas o trabalho fluiu. Não como eu gostaria, mas fluiu. O doce pedido por um aplicativo deu uma animada e consegui cumprir com meus principais objetivos do dia de trabalho.
Chego ao final da tarde um pouco irritada por não ter minha vida normal de volta, mas faço os planos para a noite: uma(s) taça(s) de vinho branco, pizza, Mel, whats com amigos e ver “As telefonistas”, seriado da Netflix.
Esse foi o meu dia. Um dia normal (?) de uma cidadã porto-alegrense que vive momentos de altos e baixos em seu distanciamento social, mas que não perde a fé e a esperança de que dias melhores virão.
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