
Durante o afastamento social acordo cada dia mais tarde, pois durmo cada
vez mais cedo, ou seja, próximo ao amanhecer.
Mesmo assim ainda é cedo.
Não há tempo para ler todos os livros que repousam na estante, nem
para realizar a limpeza da casa como planejo, nem de assistir filmes,
entrevistas e lives que me interessam.
Como pode?
Sem falar no tempo de ócio necessário, entre uma xícara de chá e outra,
contemplando o nada, tocando o instante com a ponta dos dedos, oferecendo uma
pausa para o pensar.
De repente uma estranha angústia me traz o medo do futuro, uma
insegurança relacionada ao trabalho, o temor de não ver mais os filhos e de não
encontrar o mínimo de previsibilidade na vida.
Percebo o quanto é difícil lidar com a constante ameaça de um ser
invisível e desconhecido que se expande pelo planeta.
O que me salva neste momento?
Talvez a arte. Voltei a pintar aquarelas, me dedicando às conchas.
Mas por que conchas?
Porque um ser que habita a concha é um ser amparado, em seu estado de
isolamento, curvado sobre si mesmo.
O ser que habita a concha se abriga, mas também prepara uma saída, fala
Bachelard.
Então já não me preocupo com incertezas.
Pintar conchas, recortar formas, compondo colagens me coloca em contato
com o presente.
O presente é o real.
A vida no exato instante em que o pincel toca a tinta e a dilui com
água, que se espalha no papel, dando origem a novas tonalidades.
O presente é fugaz.
É um sopro
de vida possível ou impossível, dependendo da forma como se encara a ruptura do
cotidiano, provocada pela pandemia.
Então me escondo. Procuro abrigos de paz, tentando espantar morcegos.
Tento me encontrar como ser vivo que um dia abandonará sua concha.
Porém tenho dúvidas. Será este, mais tarde, meu desejo?
Há quem diga que existe um risco de viver só. Seria a intolerância à presença do outro. Pois
o ser vivo se molda de acordo com seus contornos e labirintos, desistindo
depois de compartilhar espaços com outros seres falantes.
E adaptado ao silêncio, o único ruído suportável se torna o barulho do
mar, que vem de dentro.
Então as palavras deixam de ser necessárias, pois aprendendo a viver em
isolamento o ser às vezes acaba descobrindo sua zona de
conforto, desistindo de abandonar sua concha.
Glorinha, que momento triste esse que vivemos. O lado bom é que voltaste a pintar, colorir e nos presentear com lindas imagens. Isso comprova que a arte nos ajuda a superar crises. Parabéns amiga.
ResponderExcluirLindo texto, querida. Como sempre, escreves como pintas, diluindo e misturando as tintas e as palavras em imagens que nos impactam pela profundidade e sutileza das imagens. Parabéns, amiga!
ResponderExcluirGlorinha,lindo texto e os quadros,conseguiste passar exatamente o momento que estamos vivendo... Parabéns 👏👏
ResponderExcluirQue texto lindo! Consistente e poético. Li várias vezes e amei a firmeza e a delicadeza das conchas que abrigam pensamentos e emoções.
ResponderExcluirGlória, és uma artistas com as cores e com as palavras!!! Lindo texto!!
ResponderExcluirSimplesmente fantástico! Adorei essa abordagem,essa maneira de escrever,esse lado meio poético e muito real!
ResponderExcluirParabéns Glória!
O texto te retrata amiga. Amei. Uma delícia de leitura embalada pelas ondas do mar. Nossas conchas... O que dizer. Melhor não dizer e torná-las arte delicadamente. No momento certo faremos o movimento de saída. Cada qual da sua própria concha. Beijos amiga
ResponderExcluirAmei!!!
ResponderExcluirGlorinha amada minha.Fico lembrando o mar e uma menina linda cabelo soltos ao vento cantando conchas.Com outra menininha pela mão dizendo: quero Tu me popapia as duas olhando para outra menina de 15 anos descendo morro abaixo com um bichinho de pelúcia.Oquesera que vai naquela linda cabecinha.Dinda.
ResponderExcluirParabens amiga Muito lindo
ResponderExcluirPessoal querido muito obrigada pela visualizarem meu dia.
ResponderExcluirFiquei tão feliz por ter sido acompanhada com tanto carinho e atenção...e ainda tenho a feliz tarefa de descobrir quem é quem.Será divertido.Bjs
Pessoal querido muito obrigada pela visualizarem meu dia.
ResponderExcluirFiquei tão feliz por ter sido acompanhada com tanto carinho e atenção...e ainda tenho a feliz tarefa de descobrir quem é quem.Será divertido.Bjs