Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

17.6.20

Dia 92: por Tailor Diniz


São dois os motivos pelos quais decidi não aproveitar a quarentena para escrever.

Primeiro: não estaria fazendo nada diferente do que tenho feito a vida inteira, todos os dias.

Segundo: tenho seis originais inéditos, acabados, lidos, relidos e revisados, prontos para serem publicados, e um no prelo, Só os diamantes são eternos, que sai em outubro, pela editora Folhas de Relva (SP).

Então, escrever um novo livro para quê? Seria mais um na memória incerta do computador, na fila, esperando sabe-se lá quanto tempo para ser publicado, se for publicado.

Assim, decidi me dedicar a algo diferente, que não fazia havia anos. Peguei minhas tintas guardadas, umas telas antigas, pincéis endurecidos e uma paleta e fui pintar. Se o corona me levar, o destino dos livros inéditos provavelmente será o saco. Já um quadro fica na parede, pelo menos por uns dias, e alguém o vê.

Esses acima são dois óleo sobre tela, quinze por vinte e quinze por quinze. O segundo ainda cheirando a tinta fresca. Abaixo uma sequência de três imagens a partir do esboço. Ao apresentá-los, peço a compreensão do amigo leitor. Minha participação neste diário, dessa forma atendendo a um gentil convite da Julia, se justifica não pela qualidade das obras, especialmente técnica, mas pela curiosidade sobre o que tenho feito para ocupar o tempo durante a quarentena. Portanto, só com o olhar benevolente de todos é que isso terá algum sentido.


E ainda faço uma última ressalva: embora mergulhado nessas misturas de tintas, que resultam em suaves pandorgas coloridas, primaveras em flor e casas com puxadinhos, é impossível perder a consciência sobre onde estamos e para onde somos levados nestes tempos sombrios de muitas mortes e demência institucionalizada. Não há dúvidas de que somos empurrados para a parte mais funda de um esgoto pútrido, pelas mãos sujas de uma espécie de elo perdido entre um perigoso psicopata e o mentecapto da pior espécie. Sustenta-o uma claque de canalhas pestilentos, exemplares raiz de um tipo abjeto de miséria humana do qual se orgulham, e que, por assim ser, jamais terão salvação.

Lamentavelmente, é nas mãos dessa gente que estamos, enquanto levamos a vida adiante, tentando evitar, do jeito que podemos, pisar nessa cloaca em que eles nos meteram.


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