Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

20.6.20

Dia 95: por Aline Stawinski

Já é quase julho, e esse ano, pra mim, nem começou... me dei conta, do jeito mais didático, de que sofrer antecipadamente é um desperdício de energia. Que turmas vou pegar esse ano? Será que vou conseguir o que pedi? Me inscrevo naquele processo seletivo? E o congresso em Milão? Torcicolo, dores no corpo, será, será, será?  Tentei controlar o incontrolável, ansiei por respostas rápidas, e vem um vírus e derruba tudo. Pronto, agora não preciso mais me preocupar – ao menos, não com o que faço ou deixo de fazer... Ainda bem que deu pra aproveitar aqueles finais de semana no litoral, antes de todo mundo parar. Quando vamos poder voltar? Não sei...

Enquanto algumas pessoas parecem enlouquecidas com a abertura de um shopping (é só um shopping, aberto, no meio de uma pandemia...!), eu realmente me considero adaptada ao isolamento. Na verdade, estou até confortável, afinal, tenho uma tese pra terminar, um emprego estável que, por enquanto, permite que eu fique em casa... Tenho meu companheiro com quem posso contar e me sentir segura, dá pra assistir uns filmes e séries, curtir o aconchego da casa... Temos nossos cachorros pra fazer companhia, e que agora nos levam aos passeios diários fora de casa (com a máscara abafando o rosto)... Realmente, pra uma pessoa que sempre foi caseira, nada mau.

Pena que não é só isso. Não é só o alívio da rotina interrompida, das pressões e anseios da vida de quem dá aula, em um contexto cada vez mais desvalorizado (porque, sim, é possível piorar. Sai o ministro da falta-de-educação, e a pasta deve seguir acéfala em todos os sentidos). O mundo não parou porque as estruturas insustentáveis desse planeta se romperam. Elas continuam bem sólidas, aliás – e isso dá medo. São quase cinquenta mil mortos no país. Cin-quen-ta-mil. Acompanhar as notícias nos jornais é uma tortura imposta a mim mesma – mas como fugir das informações, se, hoje, é nosso maior bem? Até isso querem nos tirar.

Queria muito não pensar em nada. Esquecer que estamos vivendo uma pandemia em um desgoverno maníaco. Mas não dá. É impossível. Nem nos sonhos (pesadelos) consigo me livrar da realidade, me dá raiva. Eu não quero acreditar que faço parte de uma minoria que fica com um nó na garganta por causa de uma notícia do jornal, com a injustiça de uma morte injustificável, com o descaso à existência do outro... Porque isso é insuportável.

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