Quando eu soube que se instalava uma pandemia, só tinha uma certeza: a minha esposa estava grávida e nós viveríamos um grande desafio e uma experiência nova. Seríamos pais. Sentia que esse laço familiar, o qual estava se formando, seria especial - daquele momento em diante não existia mais eu, e sim nós.
Nós temíamos e tememos por nossa saúde, porém a preocupação era e é exacerbada, o que é notável, pois uma vida viria em meio a um caos de saúde inestimável.
Enfim, o Bento, nosso filho, nasceu em 19 de março, quando já estávamos passando por restrições, já se alarmavam sobre a Covid-19 e pessoas já haviam sofrido com a infecção. Eu sentia aquele misto de emoções inexplicáveis, muitas dúvidas e incertezas começavam a cada dia se fortalecer. Outrora, antes do nascimento, as preocupações já martelavam nossas mentes, como será o parto no hospital? O ambiente estará livre do vírus? A médica, os técnicos ou algum funcionário do hospital pode estar contaminado? Como posso proteger meu filho de uma possível contaminação? Enfim, essas e outras dúvidas pairavam o tempo todo na minha vida e na vida da minha esposa.
O Bento nasceu e nós voltamos para casa, mas como diz meu pai: as “coisas não são mais como antigamente”. Não estamos recebendo visita de familiares, somos pais de primeira viagem e agora não podemos contar presencialmente com o auxílio de nossos familiares, pois preferimos ficar mais isolados zelando pela saúde do nosso filho e pela nossa também.
Como todos nós sabemos, o período é de ansiedade, incerto, inseguro e não estamos acostumados a não conviver em sociedade, não estamos acostumados a não abraçar, não beijar, não acariciar nossos familiares e amigos; porém, repentinamente temos que deixar nossos instintos de lado e seguir as orientações de saúde necessárias.
Hoje, 03 de julho de 2020, o Bento acordou às 04:30 (ele ainda está regulando seu soninho), fiquei com ele até as 08:00 como de costume e fui estudar remotamente, fiquei sentado à frente do computador até o almoço. A despeito do Rio Grande do Sul estar próximo ao pico de contaminação, eu tive que sair para pagar algumas contas do meu pai.
É impressionante como muitas questões ainda tenham que ser feitas presencialmente. Quando preciso sair para meus pais, sempre fico apreensivo, pois estou sempre num impasse ponderando que preciso fazer isso por eles (pois estão no grupo de risco), mas também não posso me expor, visto que tenho um bebê de 4 meses em casa.
O dia vai passando e eu e minha esposa estamos cansados, porém gratos quando percebemos que nós estamos com saúde. Estamos nos preparando para noite que promete ser talvez a mais fria do ano, pensamos em quem não tem lar, pensamos em comprar um vinho para se esquentar. Sempre nos permitimos fazer planos, então estamos planejando os 2 aninhos do Bento, pois acreditamos que o primeiro será entre nós.
Raul, teus pais devem estar contando as horas para ter o Bento no colo. Esse dia vai chegar e vai ser inesquecível para todos vocês.
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