Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

2.8.20

Dia 138: por Guilherme Smee

Hoje é Domingo, mas todos os dias são Domingo.

Hoje é Agosto, mas todos os dias são Agosto, mês do desgosto.

Sentimos esse desgosto, todos, nos dias durante a pandemia. 

O desgosto de não poder mais fazer as coisas que a gente fazia, mas também aquele desgosto de sem gosto, de apático, de sem sal nem açúcar, porque as coisas continuam as mesmas.

O COVID-19 também é caracterizado pela falta de paladar, a falta de olfato, a falta de motivação e a falta de ar. São sintomas que todos nós estamos sentido aprisionados em nós mesmos como nunca antes, estando contagiados com o vírus ou não. A claustrofobia tem as regras do jogo.

Cada dia que passa fica mais difícil manter um fio de sanidade com as tarefas que se acumulam dentro da casa e dentro da mente. 

Talvez, num futuro próximo, as coisas que enlouquecem as pessoas sejam relativizadas. 

A ansiedade e a fobia social, por exemplo, estão hoje na ordem do dia. E desculpa, gente, eu já sentia tudo isso que vocês sentem hoje, muito muito antes. Me sinto os vikings estragando o dia de ação de (des)graças dos pioneiros.

Eu já guardava distância das pessoas desconhecidas, já evitava ao máximo aglomerações, já mantinha uma rotina de higienização das mãos mais dura. Só faltava usar máscara. Se bem que mascarava meus sentimentos. Fingindo estar bem quando só queria fugir desses lugares.

Trabalhar de casa, então, para um freelancer é rotina. E, como diria aquela banda da Rita Lee, “eu sou free, eu sou free, eu sofri demais”. Não tem essa de horários ou finais de semana. Nem carteira assinada, nem descanso, nem aposentadoria. Freelancer trabalha quando tem trabalho. E, se tem trabalho sempre, trabalha sempre. 

Então de certa forma eu gostaria de sentir um schadenfreude sobre a Pandemia. “Agora eles vão ver o que é bom (pra tosse?)”. Mas não, eu não sinto isso, não. É mais um alívio e uma esperança de que vão entender um pouco das minhas esquisitices quando acabar esse período antissocial que estamos vivendo.

Veja como o normal é construído socialmente. Engraçado como somos levados a pensar o que pensamos em sociedade. Hoje, normal é ser antissocial. Não é um novo normal, é um velho normal. Ser antissocial é, hoje, uma questão de vida ou morte. E isso pode ser verdade na cabeça de muitas pessoas A.P. (antes da Pandemia) ou D.P. (depois da Pandemia). O normal pra mim é fugir, das pessoas, das tarefas, dos medos, das inseguranças, da  ansiedade, da baixa auto-estima. Fugir sem sair do lugar. Petrificado pelo que as pessoas insistem em dizer que é normal e o que não é normal, ou ainda no que ela insistem em ser o velho normal no novo normal

A Pandemia hoje petrifica pessoas, embota mentes com rotina, cria calos nos hábitos, deixa os jovens com reumatismo, ela desafia a gente a fugir sem sair do lugar. Por muitas vezes eu joguei a toalha para este desafio. Dizia Guimarães Rosa e dizia minha mãe: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. 

Hoje é Domingo, hoje é Agosto.  

Um comentário:

  1. Triste realidade que todos estamos vivendo. Pra muitos, uma realidade ainda pior que a anterior.

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