Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

4.8.20

Dia 140: por Lia Bianchi

Com o isolamento, muitos planos: caminhar no parque todos os dias; selecionar doações; pintar paredes; cuidar do jardim. Tudo se esgotou nos primeiros quinze dias. Passei talvez um mês inteiro numa inércia absurda e sem precedentes: Clientes sumiram, amigos distantes, cinemas e aeroportos fechados, crush proibido. Ah, vou limpar as gavetas, liberar espaços. E ali, esquecidos por décadas, meu tesouro particular: Cartas de antigos amores (um em especial que me deu um ultimato): “Sono stanco di aspettare la mia principessa”. Certo que ele deveria estar cansado, havia um oceano entre nós. Assim, remexendo no passado encontrei os textos e poemas e letras de músicas. Qualquer coisa que eu julgava importante recortava e guardava. Até o nome do perfume de David Beckham estava ali. Mas, o grande resgate foram os textos do Poetinha. Eu os copiava e os decorava e os encenava em frete ao espelho “Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces”....“Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos”. E assim, fui reencontrando minha essência. Foi trazendo o passado para o presente que encontrei uma misteriosa mistura de saudade e aconchego. Garimpei cada vez mais. Agora, a estante dos livros e vinil (sim, ainda os tenho). E ali, outro tesouro: Caetanos, Chicos, Bethânias, Plácidos. Todos a minha espera. Eu os abracei e sai bailando pela casa, eu e Chico “Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar”. Nos livros, o reencontro com Gabriel García Márquez, passando por Érico Veríssimo, José Luís Peixoto (esta lista é interminável). Neste momento meu encantamento chama-se Mia Couto.

Um SALVE aos poetas e poetisas e a toda gente que escreve e compõe por trazerem luz e leveza a estes dias sombrios.

4 comentários:

  1. Amiga krida. Vc soube traduzir em palavras meses de inércia, alguma depressao e muita ansiedade.
    Que bom ler isso. Nos torna mais perto pelas semelhanças de sentimentos
    Sinta se abraçada e beijada fortemente
    Te amo

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  2. Ahh amiga Lia Bianchi!! Tua conexão - de sempre - com o antes, o agora e o futuro certamente dita o compasso alegre desse bailar, independente do ritmo, tempo ou lugar !

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  3. Liazinha Querida, que inspirador relato! A pandemia nos presentou com a conexão, oq fomos, oq somos... Mexer nas gavetas, limpar. encontrar bilhetinhos, plantar, bailar (amei essa parte). Tudo isso vai passar e daqui a 1000 anos vamos encontrar o agora!!E vamos lembrar do quanto maravilhosas somos!!

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  4. Sabe que isso, de nós irmos além dea "sabermos" como nossos amigos estão passando pelo distanciamento social, mas realmente entendermos como cada um está se virando, me parece muito tranquilizador, por saber que não estou sozinho nessa, e por me sentir mais próximo a pesar da distância. Claro a saudade de um abraço vem forte, ainda mais quando é de amigos tão valiosos como tu. Bjs

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