Querido diário, falo do futuro. Não por ter conseguido fabricar alguma máquina do tempo. Mas é para os dias que ainda estão por vir que me remeto, quando fico mais triste nessa quarentena interminável. Me projeto mentalmente para algum momento de 2021 no qual a vida de todos esteja um pouco menos cinzenta, sem a sombra de um balanço diário de mortes por um vírus que desestabilizou o planeta.
Às vezes, retorno ao passado, com recordações pessoais que me dão alento ou tentando entender como tudo isso começou. Uma pandemia com um presidente autoritário e incompetente no poder é algo que não imaginávamos quando 2020 começou.
Estimado diário, percebo que não faço contagem do número de dias passados em distanciamento social. Imagino que se contabilizasse a passagem do tempo ficaria ainda mais ansiosa por estar confinada e longe da vida que eu tinha, tão repleta de eventos culturais, encontros com amigos e trocas afetivas presenciais.
Bendito diário, sinto que criei janelas virtuais para o mundo, para tentar manter alguma esperança. Mesmo com a pandemia. Apesar do presidente. Ainda que com tanto egoísmo dos que preferem fechar os olhos para a gravidade do momento e colocar a economia acima da vida.
Amado diário, percebo que nem sempre consigo manter a sanidade e o equilíbrio emocional. E choro no banho, lembrando dos mortos, sentindo pena de quem perdeu pessoas queridas, lamentando por quem não tem um teto para manter-se mais seguro em meio a tudo isso.
Prezado diário, descubro que escrever é uma forma de sofrer menos. E, por isso, te escrevo.
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