Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

1.9.20

Dia 168: por Edmundo Arregui Dantas

Com a idade e a aposentadoria, a quarentena perde o seu peso. A rotina não muda muito.

Não há mais as obrigações do emprego, então a gente pode escolher o que quer fazer. Podemos ter um ócio criativo. Como não sou de baladas e outros eventos públicos, ficar em casa não é um peso muito grande. Em vez me sentir preso me sinto protegido .O treino no zen também ajuda muito. A morte não assusta. Tudo fica mais tranquilo. A gente tenta evita-la é óbvio, mas não perde a cabeça.

Porque as pessoas sabem que lá fora a morte está de tocaia.

A gente abre a porta da rua e a partir daí tudo o que a gente toca pode conter a morte.

A maçaneta do portão, os produtos do super, mesmo a calçada, podem conter a morte.

Os parentes e amigos podem conter a morte.

Estamos ameaçados de morte. A qualquer momento podemos pegar o Covid e eventualmente morrer. Mas quando não estivemos? Desde que a espécie humana existe, a possibilidade de morrer antes da velhice existe. Ora mais, ora menos, mas sempre presente. A vida dura um pouco mais, um pouco menos, mas sempre termina em morte. Temos de aceitar isto, aceitar a impermanencia e viver uma vida plena.

Alguns monges tibetanos pintam usando um pincel molhado apenas com água.
-Mas vai desaparecer!
-O que você escrever no papel também, só demora um pouco mais.

Uma pessoa estava sendo perseguida por um tigre. Ela correu até chegar à beira de um precipício. Sem saída, pendurou-se numa vinha que estava na beira e ali ficou.
Ao olhar para baixo viu que outro tigre a esperava atento. Segurou firme no galho que era sua única salvação. Aí notou que dois ratinhos, um preto e um branco roíam o galho.
De repente, viu bem perto um pé de morangos com um moranguinho bem maduro.
Com a mão livre o pegou e comeu.
Humm que delícia!

Como o treino zen ajuda na pandemia:

A sombra dos bambus
Varre os degraus da entrada
Sem perturbar a poeira.
A lua penetra o fundo do lago
Sem deixar qualquer marca na água.

Um comentário:

  1. Bah, que legal esse texto!
    Para mim, também aceitar a morte tornou tudo mais fácil. Eu eu diria até mais interessante. Afinal, se é possível que eu morra na semana que vem, pra que deixar para amanhã?

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