Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

10.9.20

Dia 177: por Bruna Deicke

Horas em claro. Durmo. Pesadelo. Acordo. 
Em claro. Durmo. Pesadelo. Acordo. 
Em claro. Durmo. Despertador. Acordo em um pesadelo.
Café com leite. 2 mols. Matriz de A. 1. Tô aqui. Tudo tranquilo. Tchau.

A quarentena tem sido difícil.

Falar sobre um dia específico é uma tarefa complicada, uma vez que são todos iguais. Um infindável ciclo cheio de coisas e de vários nadas. Manhãs em aula. Tardes no Classroom. Noites mal dormidas. Quase tudo se repete, menos as mortes. Essas vão se somando a cada dia. Não foram mais 800 mortes. Foi uma, mais uma, mais uma, mais uma, mais uma e mais uma história de vida. Mais uma família sofrendo. Mais um caso confirmado. Mais um story irresponsável. Mais um absurdo do presidente. 
 
O mundo tem sido difícil.

Meu mundo submerso é cheio de coisas. Dessas, muitas eu não sei lidar nem resolver e, enquanto eu puder, deixo pra depois. Este é um dos meus maiores problemas: procrastinar. Eu adio tudo o que posso por diversos motivos: medo, insegurança, preguiça ou por não me sentir preparada.  A minha mente é bem traiçoeira, ela me sabota bastante. Sendo de dia ou de noite, ela está sempre pronta. Já me disseram que eu me deprecio demais e que não posso ser assim. É tão fácil falar. Eu tento, eu juro, mas o momento não me parece muito favorável para pensamentos positivos, ainda mais analisando todo o contexto dos últimos meses da minha vida. Tem coisas que não sei quando vou resolver. Deixo pra depois. Choro. Decido resolver. Ensaio uma conversa. Desisto.

A minha mente tem sido difícil.

Tudo parece ainda pior com o isolamento. Já o conheço muito bem. O vivi quando abraços ainda eram permitidos e, mesmo assim, eu não os dava. Já passei noites pensando sobre ele, sofrendo, chorando, mas me escondia atrás de uma máscara quando na presença de outras pessoas. Hoje usamos uma de pano. Só mais uma entre tantas outras do cotidiano. Às vezes ela te deixa sem ar, atrapalha a visão, mas precisamos usar como forma de proteção. Se proteger, proteger o outro ou só como forma de procrastinar o sofrimento. Tiro a minha máscara em casa, no meu quarto, de noite. Só eu, minha mente e meu bloco de notas do celular. Nele revivo quando tudo começou a dar errado, quando a distância se fez presente contra a minha vontade, sem se importar com o que eu iria sentir. Nesse bloco, tenho memórias descritas, palavras que nunca serão ditas, confissões que nunca serão feitas e a senha da Netflix. Há noites em que quase caio na tentação de liberar o que me sufoca, mas, como sempre, desisto. E tudo se repete.

Horas em claro. Durmo. Pesadelo. Acordo. 
Em claro. Durmo. Pesadelo. Acordo. 
Em claro. Durmo. Despertador. Acordo em um pesadelo.
Café com leite. 2 mols. Matriz de A. 1. Tô aqui. Tudo tranquilo. Tchau.

A vida tem sido difícil.

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