Se quiser participar, é só mandar um e-mail pra organizadora em juliadantas@gmail.com pra combinar uma data pro teu relato. Os participantes estão em Porto Alegre ou abandonaram a cidade temporariamente para a quarentena.

14.9.20

Dia 181: por Manuela Vieira

Dia não faço ideia.

Às vezes acordo e sinto como se nem tivesse dormido. Os dias não passam. É como se eu estivesse presa no tempo. As segundas não podem mais ser chamadas de segundas. Os dias são iguais. Às vezes acontece alguma coisa diferente. É raro. Acordo. Pego o computador. Ligo. Me levanto. Vou para a sala. Largo o computador. Pego meus cadernos, livros e estojos. Vou ao banheiro. Lavo o rosto. Escovo os dentes. Volto à sala. Me sento na cadeira. Mais uma aula. Mais um dia.

Tem dias que eu estou 50% disposta e outros nem isso. Tem dias que eu me sinto totalmente alheia, como se só tivessem me jogado no mundo sem mais nem menos. Tem dias que eu tô bem. E o ciclo se repete.

Em alguns dias, acordo me sentindo vazia. É uma sensação muito estranha que nunca pensei que fosse sentir. Não sinto absolutamente nada e parece que nem eu me reconheço nesses momentos.

A ansiedade tem sido a minha maior companheira nessa quarentena. Ela chegou de mansinho, eu nem percebi e, quando vi, acordava e dormia com ela todo o santo dia. Eu já vivia grudada nela, não nego, mas com a loucura que o mundo se tornou e as mudanças que tive que aceitar, tudo piorou. Eu melhoro quando tenho a companhia de alguém ou quando meu cachorro me olha e consigo ver, no fundo dos olhos dele, que a pandemia tá complicada até para ele.

Mesmo com todo o psicológico abalado, preciso fazer as atividades. Respiro fundo, pego uma água, coloco meus fones para não ouvir os barulhos da rua e abro o classroom. Acho que só quem tá passando por isso que consegue entender esse meu sofrimento.

Mas hoje, por incrível que pareça, sem a ansiedade ou a sensação de vazio a todo momento, senti uma saudade de viver. Uma vontade louca de viajar, de conhecer pessoas novas, lugares diferentes, de sentir o vento batendo no meu rosto enquanto ando de carro, de ver as pessoas, de ir no restaurante que eu gosto, de ver as ruas, de olhar o mundo e não apenas as paredes brancas da minha casa. Esse sentimento preencheu minha cabeça e a calmaria chegou por alguns minutos. Apesar de ser nova e viver de um jeito diferente de muitos adolescentes, sempre me limitei muito a fazer coisas. Sempre me foquei em uma só coisa. E nunca pensei que fosse sentir falta até dessa coisa. A escola.

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